Teatro em Suzano narra andança da família de Jesus pelo sertão brasileiro
terça-feira, 19 de março de 2013Quem ficar cidade no feriado prolongado da “Sexta-feira da Paixão” pode levar a família toda para ver duas peças teatrais na Praça Cidade das Flores, ao lado do prédio da prefeitura de Suzano, na Rua Baruel, esquina com a Avenida Paulo Portela. Convidada pela Secretaria Municipal de Cultura na cidade de Suzano, a “Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes”, dirigida por Ednaldo Freire, encena “Sacra Folia” no sábado, 30, às 19h30, e “Auto da Paixão e da Alegria”, no domingo, 31, às 19 horas, em um palco sobre rodas, imponente estrutura montada em uma carreta.
Fundamentada na comédia popular brasileira, a “Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes” dedica-se ao resgate e a recriação de formas tradicionais populares, como os autos e as narrativas cômicas, e também desenvolve intensa pesquisa em torno do gesto, da máscara e da interpretação cômica popular, conforme explica seu diretor, Ednaldo Freire, que conta com a colaboração do prestigiado dramaturgo Luís Alberto de Abreu.
Em Sacra Folia, perseguida por Herodes e seus soldados, a Sagrada Família se perde em sua fuga para o Egito e acaba chegando ao Brasil. A perseguição continua em solo nacional e a Sagrada Família se vê obrigada a aceitar a ajuda de dois tipos populares, João Teité e Matias Cão.
Para se livrar de Herodes e retornar à Judéia, guiados por Teité, José, Maria e o menino Jesus acabam se embrenhando pelos confins do Brasil. Ao final de extensa e cômica epopéia, Teité registra Jesus como seu filho, para que ele realize no Brasil a promessa do reino de fartura que o Messias, segundo a profecia, haveria de trazer ao mundo.
Em “Auto da Paixão e da Alegria”, a peça narra as aventuras de quatro saltimbancos que se encarregam de contar os acontecimentos bíblicos. Três deles, Amoz (Edgar Campos), Benecasta (Mirtes Nogueira) e Abu (Aiman Hammoud), são pretensamente descendentes longínquos de testemunhas oculares da passagem de Cristo pelo mundo.
O quarto saltimbanco, Wéllington (Luti Angelelli), é um paraibano que, embora não tenha ancestrais que conviveram com Cristo, conhece inúmeras histórias orais transmitidas pela tradição popular.
Ele sabe, também, da expulsão de Cristo do Ceará; das andanças da sagrada família pelo sertão brasileiro, quando se perde na fuga para o Egito; de dos milagres não canônicos e acontecimentos apócrifos, como a presença do Apóstolo Tomé na Bahia e a época em que Cristo foi negro.
Enquanto os três primeiros saltimbancos tentam imprimir ao auto uma restrita versão oficial, Wéllington contrapõe a visão lúdica, cômica e ampla da cultura popular. Uma visão ambivalente onde, de forma orgânica, o sagrado se justapõe ao profano e o humano se mistura ao sublime.
Histórico do grupo
A companhia nasce do Grupo Teatral ADC Siemens, em 1981, um projeto que desenvolve atividades artísticas nas empresas. Em 1993, saem do ADC Siemens e criam o projeto Comédia Popular Brasileira, com coordenação artística de Ednaldo Freire e Luís Alberto de Abreu, com o objetivo de resgatar textos do cenário nacional. Com isso, dão início a uma longa pesquisa sobre a cultura popular. A estreia se dá com a montagem de “O Parturião”, em 1994, baseado na literatura cômico-popular medieval.
O grupo, já considerado profissional, muda seu nome para Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes. Em 1995, estreia com novo nome com a peça “O Anel de Magalão”, seguido de “Burundanga – A Revolta do Baixo Ventre”, uma montagem que homenageia a “Commedia Dell’Arte” italiana, e ”Sacra Folia”, um conto de Natal. Conserva o patrocínio da Siemens até 2000.
Sem o patrocinador, continua a produzir por conta própria. A fase frutífera faz o grupo ter o direito de ocupar o Teatro Paulo Eiró, graças ao Projeto Cidadania em Cena, da Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo. A estreia no espaço acontece com o espetáculo “Masteclé – Tratado Geral da Comédia”. No local, realizam-se oficinas de interpretação cômica, com dança e máscaras, tudo de forma gratuita.
O lançamento de “Nau dos Loucos”, em 2002, coincide com o prêmio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Com “Auto da Paixão e da Alegria”, o grupo ganha os prêmios Panamco, de melhor espetáculo, autor (Luís Alberto de Abreu), diretor (Ednaldo Freire) e ator (Luti Angelelli).
A apresentação no palco itinerante, apesar da tradição do teatro desde a Carroça de Dionísio, passando pelas trupes da Commedia Dell’Arte e, mais recentemente, pela Carroça de Ouro, foi adotada pela companhia como fruto da necessidade. Desde a saída do Teatro Paulo Eiró, a possibilidade do grupo conseguir um espaço fixo para dar continuidade ao projeto concretizou a ideia de um palco itinerante. Espaço que oferece acesso gratuito ao maior número possível de pessoas.
Fonte: Prefeitura Suzano
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